ZE DA LUZ - BIOGRAFIA
Zé da Luz, poeta, das terras nordestinas, nasceu em 29 de março de
1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba e faleceu no Rio de Janeiro em 12
de fevereiro de 1965.
Sua poesia é dita nas feiras, nas porteiras, na beirada das
estradas, nas ruas e manguezais. Perdeu-se do seu autor, pois em livro não se
encontra. Se encontra na boca do povo, de quem tomou emprestado a voz, para
dividi-la em forma de rima e verso.
Seus poemas têm a cor do nordeste, o cheiro do nordeste, o sabor do nordeste.
Às vezes trágico, às vezes humorado, às vezes safado. Quase sempre telúrico
como a luz do sol do agreste.
OBRA DO AUTOR
AI! SE SÊSSE!...
Se um dia nós se
gostasse;
Se um dia nós se
queresse;
Se nós dos se
impariásse,
Se juntinho nós
dois vivesse!
Se juntinho nós
dois morasse
Se juntinho nós
dois drumisse;
Se juntinho nós
dois morresse!
Se pro céu nós
assubisse?
Mas, porém, se
acontecesse
que São Pêdo não
abrisse
as portas do céu e
fosse,
te dizê quarqué
toulíce?
E se eu me
arriminasse
e tu cum
insistisse,
prá qui eu me
arrezorvesse
e a minha faca
puxasse,
e o buxo do céu
furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois
caísse
e o céu furado
arriasse
e as virge tôdas
fugisse!!!
BIOGRAFIA DE LEANDRO
GOMES DE BARROS –
O PAI DO CORDEL NO CEARÁ
No mês
passado fez 142 anos do nascimento do maior poeta cordelista do Brasil. Leandro
Gomes de Barros - O Rei do Cordel - nasceu na fazenda Melancia, em Pombal - PB,
no dia 19 de novembro de 1865 e faleceu em Recife-PE, no dia 4 de março de
1918, segundo alguns pesquisadores, vitimado pela Influenza espanhola. Era
sobrinho materno do padre Vicente Xavier de Farias, que ajudou a criá-lo.
De acordo com depoimento de
sua bisneta, Cristina Nóbrega, Leandro era um Nóbrega. Mudou para Barros em
decorrência das desavenças com o seu tio, o Padre Vicente. Quando os irmãos do
Pe. Vicente morreram, ele ficou por
tutor das duas famílias. Uma estava falida, e a outra tinha dinheiro. Esse
religioso passou, então, os bens do irmão para o outro, deixando a família de
Leandro na miséria. E quando Leandro foi tomar satisfações, ele mandou dizer
que "no cabaço ainda cabia orelha". Leandro, com raiva, mudou o
sobrenome de Nóbrega para Barros.
OBRA DO AUTOR
Fui um menino enjeitado
Fui triste logo ao nascer
Nem uma ave noturna
Tão triste não pode ser
Eu sou igual ao deserto
Onde ninguém quer viver.
Esse homem que me cria,
Me maltrata em tal altura
Que nem um preso no cárcere
Sofrerá tanta amargura
Não foi Deus, é impossível
Que me deu tanta amargura.
Antônio Gonçalves da
Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de
Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. É
o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Foi
casado com D. Belinha, de cujo consórcio nasceram nove filhos. Publicou
Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970,
Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem
inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Está
sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a
regência do Professor Raymond Cantel. Patativa do Assaré era unanimidade no
papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma
receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor.
"Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores
do seu sertão", declamava.
Cresceu ouvindo
histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de
menino violeiro se espalhou. Com oito anos trocou uma ovelha do pai por uma
viola. Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com
cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era o Patativa do Assaré. Nessa
época os poetas populares vicejavam e muitos eram chamados de
"patativas" porque viviam cantando versos. Ele era apenas um deles.
Para ser melhor identificado, adotou o nome de sua cidade.
Filho de pequenos
proprietários rurais, Patativa, nascido Antônio Gonçalves da Silva em Assaré, a
490 quilômetros de Fortaleza, inspirou músicos da velha e da nova geração e
rendeu livros, biografias, estudos em universidades estrangeiras e peças de
teatro. Também pudera. Ninguém soube tão bem
cantar em verso e
prosa os contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza. Talvez por
isso, Patativa ainda influencie a arte feita hoje. O grupo pernambucano da nova
geração "Cordel do Fogo Encantado" bebe na fonte do poeta para compor
suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas músicas dele, entre elas a que lançou
Patativa comercialmente, "A triste partida". Há até quem compare as
rimas e maneira de descrever as diferenças sociais do Brasil com as músicas do
rapper carioca Gabriel Pensador. No teatro, sua vida foi tema da peça infantil
"Patativa do Assaré - o cearense do século", de Gilmar de Carvalho, e
seu poema "Meu querido jumento", do espetáculo de mesmo nome de Amir
Haddad. Sobre sua vida, a obra mais recente é "Poeta do Povo - Vida e obra
de Patativa do Assaré" (Ed. CPC-Umes/2000), assinada pelo jornalista e
pesquisador Assis Angelo, que reúne, além de obras inéditas, um ensaio fotográfico
e um CD.
Como todo bom
sertanejo, Patativa começou a trabalhar duro na enxada ainda menino, mesmo
tendo perdido um olho aos 4 anos. No livro "Cante lá que eu canto
cá", o poeta dizia que no sertão enfrentava a fome, a dor e a miséria, e
que para "ser poeta de vera é preciso ter sofrimento".
Patativa só passou
seis meses na escola. Isso não o impediu de ser Doutor Honoris Causa de pelo
menos três universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de
versejar. De seus 91 anos de idade com a saúde abalada por uma queda e a
memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao
longo de sua vida, "já disse tudo que tinha de dizer". Patativa
morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome.
A triste partida* -
Patativa do Assaré**
Setembro passou,
com oitubro e novembro
Já tamo em
dezembro.
Meu Deus, que é de
nós?
Assim fala o pobre
do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
A treze do mês ele
fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença
com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.
Rompeu-se o Natá,
porém barra não veio,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata,
buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.
Sem chuva na terra
descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro,
pensando consigo,
Diz: isso é
castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço, que
é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva!
tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando
segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro,
meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
Nós vamo a São
Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino
não fô tão mesquinho,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.
E vende o seu
burro, o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece
feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que
tem.
Em riba do carro se
junta a famia;
Chegou o triste
dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que
tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.
O carro já corre no
topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista,
partido de pena,
De longe inda
acena:
Adeus, Ceará!
No dia seguinte, já
tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o
coitado, falando saudoso,
Um fio choroso
Escrama, a dizê:
- De pena e sodade,
papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta: -
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem
trato,
Mimi vai morrê!
E a linda pequena,
tremendo de medo:
- Mamãe, meus
brinquedo!
Meu pé de fulô!
Meu pé de rosêra,
coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.
E assim vão
dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso,
nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.
Chegaro em São
Paulo - sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara
estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.
Trabaia dois ano,
três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode,
só veve devendo,
E assim vai
sofrendo
Tormento sem fim.
Se arguma notícia
das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito
sodade de móio,
E as água dos óio
Começa a caí.
Do mundo afastado,
sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando,
vai dia vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!
Distante da terra
tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o
nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do su.
* Verso cantado por
Luiz Gonzaga
Antônio Klévisson Viana (Quixeramobim, 1972) é um poeta de literatura de cordel brasileiro.
Mudou-se para Canindé aos oito anos de idade, onde iniciou suas atividades como
cartunista e ilustrador no jornal A voz do Povo, órgão informativo da Prefeitura
de Canindé. Participou da coordenação do Salão de Humor Canindeense, juntamente
com seu irmão Arievaldo Viana e o professor Laurismundo Marreiro. Transferiu-se
em seguida para Fortaleza, onde atuou inicialmente como chargista e ilustrador
no jornal O POVO, estabelecendo-se em seguida com uma editora de quadrinhos e
folhetos de Cordel, a TupynanquimEditora,
de Fortaleza, Ceará. É autor de muitos sucessos da literatura de cordel, entre os quais o Romance
da Quenga que Matou o Delegado, adaptado para o programa Brava gente!, da Rede Globo.
BOA LEITURA!